26 de julho de 2010

“Senhor, ensina-nos a rezar...”


Desde os primórdios da humanidade, o ser humano sempre encontrou uma forma de se relacionar com a divindade, ou melhor, sempre precisou comunicar àquele que está acima de seus conhecimentos e limitaçãos sobre sua situação de vida, seus sonhos, seus projetos, suas conquistas, suas derrotas, enfim, Deus ou os deuses sempre estiveram na mente e no coração humano, e, é para Eles que se voltam as preces, as súplicas, os agradecimentos. O homem é por natureza ligado ao transcendente, se comunica com Ele constantemente.
Hoje, nos vemos mergulhados num mundo de informações cada vez mais rápidas, de conquistas científicas e tecnológicas cada vez mais surpreendentes. O homem cria, desde supercomputadores que fazem praticamente “tudo” até animais geneticamente idênticos entre si. As máquinas superam os homens em muitos quesitos, os alimentos são produzidos o ano todo e em diversidade, as flores tem cores que na natureza jamais se poderia imaginar, os laboratórios descobrem quase “tudo” e os cientistas e médicos parecem fazer “milagres”.
Dentro deste contexto nos surgem as perguntas: para que rezar ainda hoje? De que servem as orações se elas não tem o poder de mudar a vontade de Deus? Não estaríamos nos humilhando ao nos rebaixarmos a condição de limitados ao suplicar a um Deus distante que nos ajude? Será que o que pedimos, nós mesmos não poderíamos fazer? Tem sentido rezar ainda hoje? Porque Jesus rezava se Ele mesmo era o filho de Deus e tinha o poder de curar, de ressuscitar, de transformar, de abençoar?
Estas perguntas mereceriam respostas à altura dos questionamentos humanos. Gostaria agora de não responder a todas, deixando para cada um a interpretação e a resposta que melhor lhes couber. Mas, gostaria de citar a belíssima passagem do evangelho em que o Senhor Jesus ensina seus discípulos a rezar. Quando Ele mesmo se retira em silêncio ao monte para “conversar” com seu Pai, quando Ele mesmo dirige preces e súplicas a Deus. O que impressiona os discípulos e os faz pedir a Jesus um modelo de oração, não é tanto seu discurso, mas o fato de Ele, o Messias, precisar da oração.
Era costume entre os povos semitas, entre os líderes religiosos do tempo de Jesus, ensinar alguma fórmula de oração aos seus discípulos. Por isso, ao verem o Mestre que reza, os discípulos suplicam: “Senhor, ensina-nos a rezar...” (Lc 11, 1). Desta suplica, brota do coração do Mestre a mais bela oração de prece e agradecimento que temos, um modelo de oração, uma síntese de toda a mensagem cristã: o Pai-nosso.

Disse-lhes Ele então:

“Quando orardes dizei: Pai nosso que estais no céu”. Chamar a Deus de Pai é nos colocarmos todos no patamar de irmãos, é fazer de toda a humanidade filiação de um mesmo Deus. Um Pai amoroso que nos quer juntos dele e que nos espera de braços abertos todos os dias, se quisermos voltar para Ele. Ele é Pai nosso, não é apenas meu Pai, é Nosso Pai.
“Santificado seja o teu nome” e não o nosso. Não o nome dos homens e mulheres que se acham tão grandes ou maiores do que Vós.
“Venha a nós o teu Reino” e não o nosso. Não os reinos de nossos “umbigos” orgulhosos que se acham na prepotência de conseguir tudo sem Vós, sem a Vossa força e amparo.
"Seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu”. De novo, a Vossa vontade e não a nossa, porque somos mesquinhos e muitas vezes não pensamos nos outros. Porque apenas a Tua vontade pode fazer aqui na terra uma antecipação do céu.
“O pão nosso de cada dia nos daí hoje”. Ah se soubéssemos pedir o pão não só para nós, mas para todos. Quem reza esta oração se coloca em permanente estado de exame de si mesmo. Não tem condições de rezar com sinceridade e autenticidade quem pensa somente no próprio pão, quem acumula bens para si mesmo e para satisfazer seus próprios caprichos, quem se esquece do pobre.
“Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Não se consegue, ou, não se deveria conseguir rezar esta oração com ódio, mágoa, rancor no coração. O Pai-nosso exige de nós um coração livre.
“E não nos deixeis cair em tentação” de achar que não precisamos rezar, que somos capazes de tudo. O pior é a tentação de desacreditar nos desígnios e nas vontades de Deus para a nossa vida. A tentação que nós homens e mulheres de hoje corremos o sério risco de cair, é a de abandonarmos o Mestre, de substituí-Lo por outros mestres deste mundo.
A oração cristã, nos ensina Jesus, é sempre atendida, mas, nossa experiência de cristianismo parece não confirmar esta afirmação. Claro, se pedimos a Deus com choros e lágrimas para passar no vestibular e não estudamos, é lógico que não passaremos, ou, se pedimos o pão de cada dia e não trabalhamos, é claro que ele não vai cair do céu. Orar significa sair das trevas de nossos próprios pensamentos e egoísmos para imergirmos em Deus.
Sabe quando a oração vai ter sentido e eficácia? Quando ela começar a transformar cada um de nós a partir de dentro. Deus não precisa de nossas orações. Ele continua o mesmo sem nossas preces. Mas se oramos sem cessar, se batemos na “porta de Deus” constantemente, e suplicamos, Ele há de nos atender. Afinal, ao transformar a nossa mente e o nosso coração, a oração enfim alcançou o seu resultado...e foi atendida.

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