Mas um ano vai chegando ao fim, e
é interessante pensar, na perspectiva da fé, que antes de o ano acabar,
celebramos o “nascimento” do menino Jesus. Celebrar o “nascimento” é celebrar um
“começo”, e, portanto, antes de chegar o fim do ano, já celebramos um “inicio”,
um “nascer”! Poderíamos dizer que isso significa que celebrar o natal tão perto
do fim de ano quer nos dizer que o que celebramos é a possibilidade de um
“recomeço”! Mas não de qualquer recomeço, pois com o Natal, celebramos não só a
memória do nascimento de Jesus 2000 anos atrás; celebramos a própria presença de
Deus no seio da humanidade com a encarnação! Deveríamos então falar de um
“eterno recomeço” no dia a dia da vida.
Para o cristão, o natal não
acontece somente em 25 e Dezembro. Neste dia apenas celebramos de maneira mais
festiva e bonita uma realidade que é para nós eterna: a de que Deus se fez
homem! Mas o que isso significa? O que o Natal do menino Deus nos diz a nós
hoje?
Ao fazer-se homem, Deus se revelou
a nós. E como é Deus? É como Jesus! A vida de Jesus inteira é uma revelação de
como Deus é. No Natal podemos contemplar uma “parcela” daquilo que é o Mistério
de Deus: Deus também é como uma criança em sua simplicidade, é como uma criança
que se põe nos braços de qualquer um! As vezes imaginamos um Deus poderoso que
lá do alto em seu poder pode fazer isso ou aquilo. Mas é difícil contemplar um
Deus que se faz pequeno. Deus é tão poderoso, que seu maior ato de poder é
fazer-se pequeno!! Por quê? Para mostrar que ama o ser humano ao fazer-se igual
a ele!!
Ao fazer-se pequeno, ao viver esta
vida na terra dos homens em todas as suas situações, Deus revela-nos também a
dignidade humana! Pois ao fazer-se homem, Deus quer nos dizer que “ser humano” é
algo grandioso por que Deus mesmo quis fazer-se humano! E ao viver a vida humana
até o fim (até a cruz), Deus também nos revela, por sua ressurreição, que a vida
humana não é sem sentido, pois encontra seu sentido pleno num amor que vence a
morte! Por isso somos salvos em Jesus; somos salvos de uma vida sem sentido! O
sentido da vida humana é o amor pleno. E o amor exige eternidade, por isso Ele
vence a morte!
Francisco de Assis compreendeu a
grandiosidade do pequenino de Belém, e com Francisco foi que se popularizou a
confecção dos presépios. Certa vez disse Francisco antes do Natal e antes de
fazer o presépio: “Quero lembrar o menino que nasceu em Belém, os apertos que
passou, como foi posto num presépio, e contemplar com os próprios olhos como
ficou em cima da palha, entre o boi e o burro” (1 Celano, 84, 8). Francisco de Assis
compreendeu que Deus viveu plenamente a vida humana, até em seus “apertos”,
angustias e dificuldades, e isso desde criança!
Contemplar a presença de Deus na
simplicidade do menino de Belém é ter a certeza de um Deus presente na
simplicidade da vida. Deus se faz homem para tornar o homem divino. Deus, ao
fazer-se pequeno elevou o ser humano! E como a vida humana torna-se divina? Pelo
amor! Amor que conduz á eternidade, por que realiza aqui nesta terra aquilo que
Deus é: Amor!
O Natal é então esse convite a
perceber Deus em toda a realidade desta terra, mesmo nas dificuldades. Francisco
de Assis compreendeu que tudo é “irmão e irmã”, por que contemplou Deus na
simplicidade do menino Jesus. Ele chamou de irmão ao sol, à lua e aos animais,
mas também chamou de irmã à morte e à doença. Por trás disso está um olhar
penetrado do amor de Deus, amor que “se esconde” nas realidades mais simples do
cotidiano da vida humana, tal qual um Deus “escondido” no sorriso e no choro de
uma criança. O Natal é um convite a deixar esse amor nascer em nosso coração,
tal qual Jesus nasceu em Belém.
Neste tempo em que a JUFRA
completa 40 anos, relembrando sua historia e se alegrando no presente em vista
da construção de um mundo mais justo e fraterno, celebrar o Natal é oportunidade
impar para se renovar o ardor, a alegria e o olhar à este mundo cheio de
injustiças e contrariedades, para penetrá-lo desse amor divino. Com a presença
de Deus manifestada a nós na simplicidade e mesmo nos “apertos” da vida humana
visualizadas no Natal do menino Deus, somos chamados a renovar a esperança na
certeza de que o Amor é o único caminho que nos conduz à Deus realizando em
nosso meio o próprio Reino de Deus, trazendo a verdadeira alegria que pode
renovar e dar pleno sentido a esta vida,
isto porque o próprio Senhor viveu a nossa vida dando sentido pleno à ela!
Assim, todo dia é a possibilidade
de um recomeço no amor, e o Natal não é só uma data a ser lembrada, mas a vida
vivida na certeza de estar totalmente mergulhada em Deus, por que Deus mesmo
“mergulhou” em nossa humanidade. A vida humana é então redimida, pois
manifesta-se que esta vida tem um sentido eterno no amor, porque o amor eterno
de Deus já veio a nosso encontro, para dele vivermos também entre nós: assim o
menino Jesus, sinal do amor de Deus pela humanidade, pode nascer constantemente
no nosso meio, quando em gestos de amor manifestamos a realidade do amor divino
em nós: Isto é Natal.
Desejo a todos os jufristas um feliz Natal e um 2012 repleto
desse amor divino capaz de se manifestar na simplicidade do cotidiano da vida
para construir um mundo mais fraterno e alegre tal qual o quis o Seráfico Pai
São Francisco de Assis. E que na festividade de 40 anos, por este Natal, a JUFRA
renove seu ardor e sua alegria de seguir os passos de Francisco levando o amor
de Deus, a paz e o bem a todos!
Frei Alexandre Patucci, OFM Conv.
Assistente Espiritual
Regional
Sudeste III
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