VIII Marcha da Consciência Negra - 20 de novembro de 2011
Um Dia de Luta Contra o Genocídio da juventude negra e pelo fim dos autos de resistência
No ano de 2003 o Movimento Negro conquista a Marcha da Consciência
Negra na cidade de São Paulo, que conta com a participação de
praticamente todas as organizações negras, nacionais e locais e de todos
os setores da sociedade dispostos a continuar lutando e fortalecendo o
movimento por mudanças, por um Brasil sem racismo e livre das formas de
preconceitos, seja ele: machismo, homofobia, intolerância religiosa,
racismo ou qualquer forma de discriminação.
O Movimento Negro, ao longo de sua trajetória de luta, conseguiu
pautar alguns avanços voltados à população negra como: aprovação do
Estatuto da Igualdade Racial, o sistema de ingresso de estudantes negros
em algumas universidades públicas estaduais e federais por meio de
políticas afirmativas e da Lei 10.639/03, que institui no ensino básico a
obrigatoriedade do ensino da História da África e dos africanos.
Mesmo diante dessas leis, o racismo tem atingido a população negra em
todos os aspectos de nossas vidas, as desigualdades sociais e raciais
são visíveis e as condições de vida no qual estamos inseridos ainda são
muito precárias.
Desta forma, dando prosseguimento à luta negra no combate ao racismo,
neste ano de 2011 iremos realizar mais uma edição da Marcha da
Consciência Negra que trás em seu tema central o genocídio da juventude
negra que é praticado cotidianamente pelo estado, estamos nos
posicionando contra este genocídio e pedindo um fim.
Historicamente a juventude negra vem sofrendo as consequências de um
Estado que exerce determinadas ações que se configuram em práticas
genocidas. Entendemos o genocídio da juventude negra como um conjunto de
violações intercaladas que resultem em crescente número de mortes por
ação ou omissão do Estado como: violência policial, racismo
institucional, encarceramento em massa, violência contra a mulher negra e
jovem etc.
Tudo isso combinados com ausência de políticas sociais que mantêm
esta população totalmente à margem dos bens culturais e materiais que
possibilitem à manutenção de uma vida digna. Desta forma restando apenas
o desemprego, as drogas, a prisão, a fome, enfim, a expressão da
manutenção da miséria socialA população negra no Estado de São Paulo
No dia 11 de Maio de 1984, pelo decreto-lei 22184, do então
Governador André Franco Montoro, foi criado o Conselho de Participação e
Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo, que
inaugurou o reconhecimento oficial do Estado brasileiro, da existência
do racismo em nosso país.
A partir daí, sucessivos governos praticamente nada tem realizado
para inibir ou limitar as desigualdades sócio raciais no Estado de São
Paulo.
Durante todos esses anos a qualidade de vida da população negra e
pobre tem piorado. As politicas sociais desenvolvidas em outros Estados e
pelo Governo Federal não encontram eco e não conseguimos visualizar
nenhum programa para a promoção da igualdade racial sendo executado no
Estado de São Paulo.
Diante disso, o Conselho da Comunidade Negra tornou-se uma estrutura
simbólica, passando ao longo dos anos por um progressivo processo de
esvaziamento político.
No atual governo do Estado de São Paulo, o de Geraldo Alckmin, foi
criada em 2009 a Coordenação de Políticas para a População Negra e
Indígena, no interior da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania,
com a atribuição de defender os direitos da população negra, indígena e
quilombolas, mas o que notamos é que a mesma não tem poder e recursos
orçamentários, materiais e humanos para executar as tímidas propostas de
seus dirigentes.
O governo, desta forma, não implementa nas suas diversas secretarias,
as políticas de combate ao racismo e de promoção da igualdade racial,
expressando o retrocesso e o conservadorismo que emanam dessas elites
que há muitos anos nos governam e tentam manter a qualquer custo seus
privilégios.
Temos como exemplo disso, a Universidade de São Paulo, USP, que
insiste em não aderir às políticas de cotas, os ataques contra o decreto
4487 que regula a Titulação dos Territórios quilombolas e a
regularização das terras quilombolas no Estado de São Paulo e outros
casos de racismo recorrentes no Estado e na cidade de São Paulo, em
estabelecimentos bancários, comerciais e públicos, onde negros são
submetidos à atitudes racistas e tratamentos desumanos e vexatórios.
O fortalecimento das nossas lutas.
No entanto, vemos que existe uma herança do trato escravocrata, o
Estado e suas políticas de segurança pública mantêm uma atuação
coercitiva, preconceituosa e violenta dirigida a população negra.
Desrespeito, agressões, espancamentos, torturas e assassinatos são
práticas comuns destas instituições. Situações comuns nos mais de 350
anos de escravidão e comuns na pós-abolição. Comuns também nos períodos
de ditaduras. Comuns em nossos dias.
Esta situação reafirma a urgência do fortalecimento das nossas lutas.
NOSSAS BANDEIRAS DE LUTAS.
Contra o genocídio da juventude negra;
Pelo fim do "Registro de resistência seguida de morte" ou "Auto de resistência" para as execuções sumárias;
Tipificação dos casos de violência policial que resultem ou não em mortes, como crimes de torturas, conforme a lei 9455/97;
Instituição de uma CPI das Polícias de São Paulo, que vise
desmantelar as milícias, apurar denúncias/crimes e punir responsáveis;
Combate ao racismo, à discriminação, preconceito, homofobia e machismo;
Pelo fim da violência doméstica e outras formas de violência direcionadas à mulher negra;
Garantia dos direitos das trabalhadoras domésticas, em sua maioria mulheres negras;
Por reparações históricas para a população negra brasileira;
Pela manutenção do Decreto 4487, que regula a a titulação dos
territórios quilombolas em âmbito nacional e a regularização das terras
quilombolas no Estado de São Paulo;
Pelo fim da criminalização dos movimentos sociais;
10% do Produto Interno Bruto (PIB) destinados ao orçamento para a educação;
Implementação da lei 10639/03, que torna obrigatório o ensino da
história e cultura africana e afro-brasileira em nossas escolas;
Cotas nas universidades públicas do Estado de São Paulo;
Combate às manifestações racistas, preconceitos e visões estereotipadas da população negra nos meios de comunicação;
Pelo fim do trabalho escravo;
Pela livre manifestação das religiões de matrizes africanas;
Pela redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem redução de salários;
Pelo feriado nacional e no estado de São Paulo, no dia 20 de Novembro, o dia Nacional da Consciência Negra.
Haverá uma concentração às 10 horas no Museu de Arte de São Paulo (MASP), na Avenida Paulista, na cidade de São Paulo
Fonte: Portal Geledés
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