Ao escrever a sua irmã Inês de Praga disse Clara de Assis:
Ao amá-lo, sois casta;Somente faz um poema assim aquela que percorreu um caminho significativo. As duas co-irmãs falavam e entendiam-se na mesma linguagem: da contemplação. Normalmente se tem dificuldade de entender as expressões místicas dessas personalidades. Corriqueiramente se compreende apenas em sentido sentimental.
Ao tocá-lo, sereis mais pura;
Ao recebê-lo, sois virgem. (1CCL 8)
Lógico que está envolvido um sentimento profundo de encantamento pela divindade. Entretanto, tal postura está muito longe de um ‘sentimentalismo’. A contemplação parece requerer da pessoa uma abertura total ao Outro que se aproxima. Logo, qualquer sentimentalismo não suporta tamanha abertura, pois sentimentalismo é apego a si mesmo e na contemplação não pode existir qualquer forma de posse, apenas encantamento e espera.
O sentido da castidade e da virgindade foi amplamente expresso por Clara. Não se tratava de genitalidade como é costume infeliz de se interpretar na espiritualidade contemporânea. Não se referia a uma vivência moralista ou alguma espécie de puritanismo, mas a experiência clareana revelou uma profunda ligação entre a divindade e a criatura e a dinâmica da divindade é amor.
Quem ama se torna semelhante a Ele. Uma alma contemplativa é aquela que chegou a um amor mais perfeito. Abriu mão de todas as suas verdades e gratuitamente acolhe Aquele e aqueles que dela se aproxima. Sem formulas, sem dogmas, sem moralismos ou julgamentos. Entretanto, o amor é penetrante, e, no próprio ato gratuito do acolhimento, possibilita a transformação. Na medida em que se aproxima Daquele que nos chamou primeiro nos tornamos mais puros, não por nós mesmos, mas pela ação Daquele que nos chama. Qualquer pretensão de retemos o amor não passa de egoísmo.
Clara foi virgem porque era contemplativa e era contemplativa porque era virgem pela graça. Poderíamos dizer que, Clara aberta sempre a esse Outro que se apresenta, mesmo que não compreendesse claramente, sabia que o amor é esquivo, que qualquer pretensão de posse era uma ilusão. Ser virgem é saber esperar, ter as lâmpadas acesas (Cf. Mt 25)ser pobre em espírito (Cf. Mt 5,3). O desejo de encontrar o amado foi grande, mas Clara sabia que não se podia tê-lo como posse, pois deixaria de ser virgem. Logo, ser casta e virgem era ser transparente como a água límpida que deixa o sol atingir o fundo.
A espiritualidade clareana é de um vigor intenso. Seria ingenuidade de nossa parte olhar Clara de Assis e ver uma mulher fraca, como se tivesse uma anemia espiritual. Ela possuía uma força e vitalidade superiores para sua época. Não se trata de uma espiritualidade infantil, mas de uma vivência intensa do Evangelho, da própria identificação com Cristo: pobre e crucificado. T
Por Frei Edson Matias, OFM Cap
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