O que acontece no Natal? Para nos ajudar a responder a essa pergunta o evangelista Lucas nos coloca no coração dos acontecimentos (Lc 2,1-20). Ele nos convida a contemplar o Presépio. A descrição que faz do que aconteceu na gruta de Belém nos deixa surpresos, pois Jesus não é descrito diretamente. Fôssemos nós a narrar o nascimento de uma criança, falaríamos de seu rosto e de seu choro, de seu tamanho e peso. Lucas nada nos diz a esse respeito. Não elogia Jesus nem se preocupa em nos dizer como ele era.
Na primeira parte do seu relato, parece querer destacar José e Maria, que se submetem a um homem poderoso - César Augusto. Esse imperador espalha o medo pela região: como não obedecer a ele, que queria um recenseamento completo da população, para que ninguém deixasse de pagar impostos? O imperador demonstra seu poder movimentando as pessoas, mesmo que se trate de mulheres, como Maria, que estejam grávidas e para quais qualquer viagem é um grande incômodo.
A segunda parte da descrição é em torno dos pastores. Para que entendessem que a mensagem que ouviam era marcada pela alegria, foi preciso que os anjos os acalmassem: "Não tenhais medo!".
Mesmo que Lucas não entre em por menores sobre Jesus, no centro não só da cena que descreveu, mas em todo o seu Evangelho, é o Filho de Deus que se destaca. Jesus é o centro do Natal. Tudo se movimenta ao seu redor, isto é, ao redor de uma criança que, como todas, é frágil e indefesa. Ele está no centro da vida de Maria e de José; no centro da vida dos pastores. Mais: no centro da História! Tudo gira em torno dele; tudo foi feito por ele e para ele.
Gosto de observar presépios, não importa de que maneira são feitos, nem por quem. Vejo que em todos eles as personagens estão ali em função de Jesus. Todas estão voltadas para ele ou têm sentido em vista dele. José o protege. Maria é aquela que o enfaixa e o coloca na manjedoura. Os pastores, para visitá-lo, deixam seu rebanho. Jesus nada diz, nada ordena e, no entanto, todos são tocados por ele.
A partir de seu nascimento, em Bélem, Jesus passa a estar no centro da vida de homens e mulheres, de jovens e crianças de todos os tempos - também dos que não o aceitam. Ele veio trazer a salvação e a paz para todos, mas não obriga ninguém a aceitá-las. No Natal, o Pai dá o maior de todos os presentes à humanidade. Contudo, não nos dá Seu Filho porque somos santos, mas porque somos necessitados e precisamos de um Redentor. Sem ele - Caminho, Verdade e Vida - , pereceríamos. Sozinhos, não conseguiríamos trilhar o caminho do amor.
Comecei perguntando: "O que acontece no Natal?". Com a ajuda do evangelista Lucas, descobrimos que, no Natal, Deus abre imenso horizontes diante de nós, pois nos tira do caminho da morte e nos introduz no caminho da vida. O apóstolo Paulo nos dirá que, no Natal, "a graça salvadora de Deus manifestou-se a toda a humanidade", pois Cristo "se entregou por nós, para nos resgatar de toda iniquidade e purificar para si um povo que lhe pertença e que seja zeloso em particar o bem" (Tt 2,11-14). Purificar para si um povo que lhe pertença! Somos chamados a pertencer a este povo que tem como centro Jesus. Um povo que se dedica a praticar o bem!
O que acontece no Natal? Acontece simplesmente isto: "Nasceu para nós um Menino" (Is 9,5). Jesus está no meio de nós!
Por Dom Murilo S. R. Krieger, SCJ
Fonte: Revista Mensageiros do Coração de Jesus (vol. 116, n° 1286 - dez/2010)
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