São Francisco das Chagas (altar mor da igreja da VOT - SP) |
Francisco, "servo crucificado do Senhor crucificado"
Aproximando-se a festa da santíssima Cruz do mês de setembro, uma noite Frei Leão foi ao lugar e na hora habituais para dizer matinas com São Francisco. Quando, na cabeça da ponte, disse, como costumava, Domine, labia mea aperies, e São Francisco não respondeu, Frei Leão não voltou atrás, como São Francisco tinha mandado, mas com boa e santa intenção atravessou a ponte e entrou quietamente em sua cela.
Quando ele ia saindo tranqüilamente, São Francisco escutou-o pelo rumor dos pés sobre as folhas, e mandou que esperasse e não se movesse. Então Frei Leão, obediente, ficou parado esperou-o com tanto medo, que, como ele contou depois aos companheiros, naquela hora ele teria preferido que a terra o engolisse do que esperar São Francisco, que ele pensava estar perturbado contra ele, porque ele se guardava com a maior diligência de ofender a sua paternidade, para que, por sua culpa, São Francisco não o excluísse de sua companhia.
E entre outras coisas que me disse, pediu que eu lhe fizesse três dons, e eu respondi: Senhor meu, eu sou todo teu. Tu sabes bem que eu não tenho mais nada além da túnica, do cordão e dos panos das bragas, e mesmo essas três coisas são tuas. Então, que posso oferecer ou te dar a tua majestade?
E como tu viste que eu punha a mão no seio e oferecia a Deus essas três virtudes, significadas por aquelas três bolas de ouro que Deus tinha posto em meu seio, assim me deu Deus virtudes em minha alma, que de todos os bens e de todas as graças que me concedeu por sua santíssima bondade, eu sempre o louvo e engrandeço com o coração e com a boca. Essas são as palavras que ouviste ao levantar três vezes as mãos, como viste.
No dia que vem antes da festa da santíssima Cruz do mês de setembro, estava São Francisco em oração secretamente na sua cela. Apareceu-lhe o Anjo de Deus e lhe disse da parte de Deus: “Eu te conforto e aconselho a te preparares e dispores humildemente com toda paciência para receber o que Deus te quiser dar e fazer em ti”. São Francisco respondeu: “Eu estou preparado para suportar pacientemente tudo que o meu Senhor quer me fazer”. Dito isso, o Anjo foi embora.
Chegou o dia seguinte, isto é, da santíssima Cruz, e São Francisco, de manhã, antes do dia, pôs-se em oração na frente da porta da sua cela, virando o rosto para o oriente, e orava desta forma: “Ó Senhor meu Jesus Cristo, duas graças te peço que eu me faças antes de eu morrer: a primeira, que em vida eu sinta na minha alma e no meu corpo, quanto for possível, a dor que tu, doce Jesus, suportaste na hora da tua acerbíssima paixão. A segunda é que eu sinta no meu coração, quanto for possível, aquele amor sem medidas de que tu, Filho de Deus, estavas incendiado para suportar, por querer, tamanha paixão por nós pecadores”.
Chegou o dia seguinte, isto é, da santíssima Cruz, e São Francisco, de manhã, antes do dia, pôs-se em oração na frente da porta da sua cela, virando o rosto para o oriente, e orava desta forma: “Ó Senhor meu Jesus Cristo, duas graças te peço que eu me faças antes de eu morrer: a primeira, que em vida eu sinta na minha alma e no meu corpo, quanto for possível, a dor que tu, doce Jesus, suportaste na hora da tua acerbíssima paixão. A segunda é que eu sinta no meu coração, quanto for possível, aquele amor sem medidas de que tu, Filho de Deus, estavas incendiado para suportar, por querer, tamanha paixão por nós pecadores”.
Quando desapareceu essa visão admirável, depois de um tempo e de uma conversação secreta, deixou no coração de São Francisco um ardor enorme e a chama do amor divino. E na sua carne deixou uma maravilhosa imagem e vestígio das paixões de Cristo. Daí começaram a aparecer imediatamente nas mãos e pés de São Francisco os sinais dos cravos, do jeito que ele tinha visto então no corpo de Jesus Cristo Crucificado, que lhe tinha aparecido na forma de Serafim. E assim pareciam suas mãos e pés pregados no meio com cravos, cujas cabeças estavam nas palmas das mãos e nas plantas dos pés fora da carne, e suas pontas saíam no dorso das mãos e dos pés, de maneira que pareciam entortados e rebatidos, de modo que entre a curvatura e o rebite, que saíam inteiros para fora da carne, podia-se colocar facilmente o dedo da mão, como em um anel. E as cabeças dos cravos eram redondas e pretas.
De maneira semelhante, no lado direito apareceu uma imagem de uma ferida de lança, não cicatrizada, vermelha e sangrenta que, mais tarde, muitas vezes soltava sangue do santo peito de Francisco e lhe ensangüentava a túnica e as bragas. Por isso os seus companheiros, antes que o soubessem por ele, percebendo que ele não descobria nem as mãos nem os pés, e que não podia pousar no chão as plantas dos pés, e também encontrando ensangüentadas a túnica e as bragas, quando as lavavam, compreenderam com certeza que ele tinha expressamente marcadas nas mãos nos pés e no peito, a imagem e semelhança de nosso Senhor Jesus Cristo crucificado.
E embora ele se esforçasse muito por esconder e ocultar aqueles sagrados estigmas gloriosos, tão claramente impressos em sua carne, e por outro lado vendo que mal podia esconder dos companheiros seus familiares, temendo publicar os segredos de Deus, ficou numa grande dúvida se devia ou não revelar a visão seráfica e a impressão dos sagrados Estigmas. Finalmente, impelido pela consciência, chamou alguns frades mais familiares seus e, propondo-lhes a dúvida com palavras gerais, sem contar o fato, pediu o seu conselho.
Entre esses frades havia um de grande santidade, que se chamava Frei Iluminato. Ele, verdadeiramente iluminado por Deus, compreendendo que São Francisco devia ter visto coisas maravilhosas, assim lhe respondeu: “Frei Francisco, sabe que não só por ti, mas também pelos outros Deus te mostra algumas vezes os seus sacramentos. Por isso tens que temer razoavelmente que, se mantiveres escondido o que Deus te mostrou para utilidade dos outros, sejas merecedor de repreensão”. Então São Francisco, movido por essa palavra, com grandíssimo temor contou-lhes todo o modo e a forma da sobredita visão, acrescentando que Cristo, que lhe havia aparecido, tinha dito certas coisas que ele não contaria nunca enquanto vivesse.
E, embora as chagas santíssimas, porque lhe tinham sido impressas por Cristo, lhe dessem uma enorme alegria ao coração, para a sua carne e para os seus sentimentos corporais eram uma dor intolerável. Por isso, forçado pela necessidade, ele escolheu Frei Leão, entre os outros mais simples e mais puro, a quem revelou tudo e deixava ver, tocar e enfaixar aquelas santas chagas com alguns retalhos de linho, para mitigar a dor e receber o sangue que saía e corria das ditas chagas. Nos tempos em que estava doente, ele deixava trocar essas bandagens com freqüência, até mesmo todos os dias, menos da quinta-feira à tarde até o sábado de manhã, pois nesse tempo ele não queria que fosse mitigada por nenhum remédio ou medicina humanos a paixão de Cristo, que ele carregava em seu corpo.
(Trecho do texto: Terceira consideração dos sagrados santos estigmas. Fioretti)
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